Um Canário Melánico que ficou Branco

Casos de troca de cor tem sido observados em diversas espécies de aves de gaiola quando da muda. Trata-se geralmente de canários ou de periquitos ondulados, aves criadas há muito tempo. Essa troca pode ser definitiva ou desaparecer na muda seguinte; atribui-se a esta a uma deficiência endócrina, a hipófise desenvolvendo um papel importante na formação da melanina. Não é raro que a esterilidade acompanha esta mudança, o que confirma uma origem hipofisária.

O caso seguinte é mais original. Ele concerne a um canário que apareceu na criação de Armand Gavilan, de Istres. Este pássaro vem da variedade de asas-cinzas, que reduz a quantidade de melanina nas penas e pela mutação branco que suprime o carotenóide amarelo.

Nascido em 1989, o pássaro tornou-se progressivamente branco em seguida as mudas sucessivas tendo em 1992 o desaparecimento completo da melanina nas penas como também igualmente no bico. Mais surpreendente ainda, um filhote deste pássaro parece atingido pelo mesmo mal; nascido asas-cinza, ele apresenta manchas claras e está atualmente manchado de branco.

Em 1992 a revista italiana “Itália Ornitologica” mostrou que um outro canário asas-cinza estava se tornando branco. Entretanto a mudança não era progressiva e a interpretação não é a mesma.

Se o canário italiano parece vitima de distúrbios endócrinos, não se pode dizer o mesmo do canário Istres. Neste último caso, o fenômeno sendo hereditário, pode-se falar de mutação e de uma mutação bem particular. Trata-se aparentemente de uma mutação somática pois ela se manifesta num indivíduo antes normal, Uma mutação somática é uma mutação que concerne de células não sexuais e que, por conseguinte, não concerne do patrimônio genético do ovo e do indivíduo que provém. Conhece-se tais mutações nos vegetais onde um broto pode dar um ramo dando flores de cores diferentes da normal. Nos animais as mutações somáticas são uma causa importante do envelhecimento dos indivíduos. Pode-se admitir que no canário que se tornou progressivamente branco, uma mutação afetando uma ou mais células epidérmicas sendo a origem de um conjunto de células incapazes de fixar a melanina, de onde a partir destas células, o aparecimento de penas de cor branca. A incapacidade poderia ser devido somente pela ausência de receptores relativos a melanotropia (hormônio produzido pela hipófise e que age na melanização), seja a uma inibição ou a uma outra causa.

A extensão de manchas brancas pode resultar de uma migração de células mutantes ou à generalização da mutação, seguido do transporte pelo sangue de um fator desencadeante. As células fabricando a melanina derivam de células migratórias ditas melanobiastos, e no câncer as metástases são devidas às células que migram no sangue. O fato que o fenômeno pode tornar-se hereditário, permite se perguntar se não se está na presença de um caso relevante de existência de genes saltadores ou transponentes; e isto em referência aos trabalhos da americana Bárbara Mac Clintock, prêmio Nobel de 1983.

Um gene suscetível de se inserir num cromossomo provocaria uma mutação arrebatando a impossibilidade de sintetizar ou de fixar a melanina nas penas. Este fator de instabilidade seria capaz de concernir, dando a progressão e a hereditariedade do fenômeno.

Há muitos anos uma mutação comparável foi observada num pequeno exótico, o diamante de Nouméia ou diamante psitacular (Erythura psittacea). Esta ave normalmente verde, com cabeça e rabadilha vermelhas, pode apresentar manchas amarelas devido ao desaparecimento da melanina nas partes verdes da plumagem. A mutação pode progredir em decorrência de mudas, ao ponto de se poder, por seleção, chegar a aves amarelas com cabeça e rabadilha vermelhas. A mutação é hereditária podendo mesmo se transmitir por hibridação ao diamante de Kittlitz (Eryhtrura trichroa), os híbridos sendo férteis. Na combinação com a mutação azul (ausência de carotenóides), pode-se chegar a diamante psitacular azul manchado de branco. Na sua obra “La Science de Beaux Oiseaux” M.

Pomarède fala do manchado evolutivo; o fenômeno poderia concernir a diversas espécies e principalmente ao agapornis de face rosa (Agapornis roseicollis).

RESUMO

O desaparecimento da melanina na plumagem de aves pode se fazer progressivamente com o acontecimento das mudas e o fenômeno pode ser hereditário. Ele poderia ser atribuído a um fator de instabilidade que seria uma transposição (cf. Bárbara Mac Clintock).

Revista SOBC 2000
Artigo Editado em 28 Dez 2003

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