O FATOR MELANICO ANCESTRAL NOS CANÁRIOS DA LINHA CLARA
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O FATOR MELANICO ANCESTRAL NOS CANÁRIOS DA LINHA CLARA
O FATOR MELANICO ANCESTRAL NOS CANÁRIOS DA LINHA CLARA
Também conhecido como caracter de rusticidade, o fator melânico ancestral se manifesta através do aparecimento de manchas melânicas na plumagem de canários da linha clara. Não pretendo dividir, para este estudo, os canários da linha clara em com e sem fator vermelho, pois nossos mosaicos sem fator são descendentes dos vermelhos, os quais por sua vez descendem do Tarin da Venezuela e, graças ao trabalho de hibridação realizado por estudiosos, está presente em quase todas as variedades sem o fator vermelho. Portanto, o fator melânico ancestral - o qual já se expressava antes da hibridação de nossos canários com o sangue do Tarin, pois carregavam em seus genes um ancestral melânico comum - consta da carga genética da maioria de nossos canários, exceção aos albinos.
EXCEÇÃO AOS ALBINOS
Pesquisando especificamente o albinismo dos olhos, na linha clara, podemos considerar ser o agente inibidor da expressão melânica na plumagem. É por isso que não vemos um(a) albino(a), ou lutino(a), ou rubino(a) com mancha. Ao que o neófito poderia argumentar: mas por que então os brancos, amarelos e vermelhos, mesmo sem mancha, produzem também descendentes manchados? Ora, vale lembrar que se seus olhos são negros ou castanhos, já há indício de melanismo, embora sejam considerados uma mutação. Portanto, especificamente no caso dos brancos, como um exemplo meramente didático adotado, a pigmentação escura (preta ou castanha) nos olhos já indica a presença, ainda que restrita, de melanismo. O que torna esses canários brancos é uma deficiência hepática (no metabolismo da pró-vitamina A) que os impede de expressar o pigmento amarelo, mas não impede uma eventual expressão melânica na plumagem. É isso que, basicamente, difere os canários brancos dos albinos. Os albinos são totalmente desprovidos de pigmentação e são homozigotos (recessivos), enquanto que os brancos representam apenas ausência de lipocromo, tendo o melanismo restrito aos olhos, e por isso mesmo apresentando genes, inibidos, para o melanismo.
O verdadeiro albino - de acordo com KELSEY-WOOD, 1989 - é totalmente desprovido de qualquer pigmento no corpo e nos olhos, que devem ser rosados ou vermelhos por refletirem a hemoglobina nos vasos sanguíneos do olho. Esta cor é muito popular em aves e roedores domésticos, aparecendo com raridade na natureza. Estudiosos dizem que o albino surge, em populações fechadas, e tem poucas chances de sobrevivência na natureza por estarem mais expostos, e não por falta de vigor. Segundo a lista de HERVIEUX (1713), encarregado dos aviários da Duquesa du Barry, o "Serin Blanc, aux yeux rouges" (canário branco de olhos vermelhos), a variedade albina já existia e era proveniente de canários melânicos. Mutação muito mais antiga que os brancos recessivos, cuja aparição, de acordo com dados históricos, se deu em 1908, no criadouro da Sra. Lee, na Nova Zelândia, os quais por sua vez eram oriundos de canários amarelos.
O PRECONCEITO PARA COM OS MANCHADOS
A essas alturas o leitor já deve estar puxando uma pestana ou querendo saber onde pretendo chegar. Pois bem, com mais de vinte anos de estudos e criação, tenho observado belíssimos exemplares da linha clara serem preteridos tão somente por apresentarem uma mácula melânica em sua plumagem. Vale observar que o simples fato de ter olhos escuros já é uma expressão de melanismo, apesar do mesmo estar restrito aos olhos e mostrar- se inibido na plumagem.
Isto significa que mesmo sem manchas escuras na plumagem, um canário amarelo, branco ou vermelho apresenta caracteres de herança para melanismo em seu genótipo, o que ocorre na maioria das vezes. A incidência de manchas (inclusive manchas córneas) tende a aumentar se houver cruzamento consangüíneo, pois tendo o canário (Ser/nus canarius) apenas 18 cromossomos, as chances de vários genes de um mesmo cromossomo se combinarem com seus semelhantes aumentam. Há criadores que preferem usar canários lipocrômicos com olhos canela, ao invés dos canários com olhos negros.
Entretanto, vale lembrar que não há nenhum estudo científico publicado em defesa dos que trazem o feomelanismo em sua genética. Só existe uma afirmação: eumelanismo e feomelanismo em canários da linha clara devem estar restrito aos olhos, no que diz respeito às condições de um exemplar competitivo (aparência = fenótipo). Não obstante, o melanismo dos olhos já implica em um fator ancestral presente em sua bagagem genética (genótipo; o que não aparece). Temos uma questão: usar ou não os manchados?
Diante das considerações levantadas sobre o fator melânico ancestral, não há impedimento algum no uso desses reprodutores e posso até mesmo aconselhar que, se quisermos utilizar fêmeas manchadas, o ideal seria levarmos para seus pares de olhos vermelhos (fator /no), pois já na primeira geração todas as filhas seriam puras. Afinal, um plantel não se faz apenas de campeões! Os exemplares show (ideais para campeonato) estão muitas vezes num preço inacessível, ou incompreensível, para o iniciante, ao passo que exemplares breeder (só para criação) são adquiridos pela metade do preço e podem resultar num futuro campeão.
O foco principal da criação é a seleção – aprimoramento - e não apenas a soma de exemplares top show! Então, será mesmo que vale a pena desprezar os manchados? Não esqueça de que olhos escuros em canários da linha clara já são o indício do fator melânico ancestral e tenha sempre em mente de que não existe num plantei canários com a mesma tipologia (ou só intensos, ou só nevados ou somente no padrão de campeonato). É o trabalho de seleção que torna um indivíduo um criador.
Mauro Scaramuzza Filho
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