Hereditariedade e o Organismo
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Hereditariedade e o Organismo
Hereditariedade e o Organismo
Por que estudar genética? Existem duas razões básicas. Primeiro, a genética chegou
para ocupar uma posição fundamental na biologia como um todo. Portanto, é
essencial o entendimento da genética para qualquer estudo sério sobre a vida
vegetal, animal e microbiana. Segundo, a genética, como nenhuma outra disciplina
científica, tem se tornado fundamental para os inúmeros aspectos dos interesses
humanos. Ela toca nossa humanidade de muitas maneiras diferentes. De fato, as
questões genéticas parecem emergir diariamente em nossas vidas, e nenhum ser
pensante pode se dar ao luxo de ignorar essas descobertas.
Primeiramente precisamos definir o que é genética. Alguns a definem como o estudo
da hereditariedade, porém os fenômenos hereditários têm sido do interesse humano
desde o início da civilização. Muito antes da existência da biologia ou da genética
como disciplinas científicas como as conhecemos hoje em dia, os povos da
antigüidade já melhoravam as plantações e domesticavam animais selecionando
indivíduos desejáveis para reprodução. Eles provavelmente também se questionavam
acerca da herança da individualidade nos seres humanos, fazendo perguntas do tipo
"Por que as crianças se assemelham a seus pais?" e "Como podem as variadas
doenças ser passadas de geração a geração?" Contudo, a genética como um grupo
de princípios e procedimentos analíticos não teve início até a década de 1860,
quando um monge augustiniano, chamado Gregor Mendel, realizou uma série de
experiências que apontaram para a existência de elementos biológicos chamados
genes.
A palavra genética vem de "genes", e os genes são o foco para o assunto.
Não importa em que nível os geneticistas estudem, molecular, celular, do organismo,
da família, da população ou da evolução, os genes são sempre fundamentais em
seus estudos. Falando de forma simples, a genética é o estudo dos genes.
O que são os genes? Os genes são compostos por uma macromolécula de dupla
hélice, chamada ácido desoxirribonucleico, abreviado para DNA. O DNA, o
material hereditário que passa de uma geração à seguinte, dita as propriedades
inerentes de uma espécie. A informação codificada no DNA está sob a forma de uma
seqüência de subunidades químicas chamadas nucleotídeos. Cada célula em um
organismo contém, tipicamente, um ou dois grupos do complemento básico do DNA,
chamado de um genoma.
O genoma é constituído de uma ou mais moléculas de
DNA extremamente longas agrupadas em estruturas denominadas cromossomos.
Os genes são simplesmente as unidades funcionais do DNA cromossômico. Cada
gene não só codifica a estrutura de algum produto celular, como também transporta
consigo os "botões" de controle que determinam quando, onde e quanto de cada
produto será sintetizado. A maioria dos genes codifica produtos de proteína. As
proteínas são os mais importantes determinantes das propriedades de células e
organismos: quando observamos um organismo, o que vemos são proteínas ou algo
que foi feito a partir de uma proteína. A maneira pela qual os genes codificam as
proteínas é indireta e envolve muitas etapas. A primeira é copiar (transcrever) a
informação codificada no DNA do gene como uma molécula relacionada, porém unifilamentar, chamada RNA mensageiro.
A seguir, a informação no RNA mensageiro é traduzida (decodificada) em uma cadeia de aminoácidos denominada polipeptídeo. Os polipeptídeos, por si sós ou por meio da agregação a outros
polipeptídios e constituintes celulares, formam as proteínas funcionais da célula.
Como as propriedades celulares determinam as propriedades de um organismo,
existe um elo direto entre os genes e a estrutura e função de um organismo. Nos
organismos complexos, o número de cromossomos geralmente é da ordem das
dezenas, enquanto o número de genes é da ordem das dezenas de milhares.
Genética e Interesses Humanos
A genética parece ocupar um lugar especial nos interesses humanos. Ela não apenas
é relevante no mesmo sentido em que as outras disciplinas científicas são, como
também tem muito a nos dizer sobre a natureza de nossa humanidade, sendo única,
nesse aspecto, dentre as ciências biológicas.
A Sociedade Moderna Depende da Genética
Dê uma olhada nas roupas que você está vestindo. O algodão da sua camisa e os
jeans vieram de plantações de algodão que diferem das de seus ancestrais selvagens
à medida que passaram por programas intensos de cruzamento envolvendo a
aplicação metódica de princípios genéticos padrões. O mesmo pode ser dito para as
ovelhas que produzem a lã de seu suéter e de seu casaco. Lembre-se de sua
refeição mais recente.
Você pode estar certo de que o arroz, o trigo, a galinha, o bife,
a carne de porco e todos os outros principais organismos que alimentam os seres
humanos neste planeta têm sido cruzados e selecionados especialmente por meio da
aplicação de procedimentos genéticos padronizados pelos manipuladores de vegetais
e animais. A chamada Revolução Verde, que aumentou dramaticamente a
produtividade das plantações em uma escala global, é uma história genética bem
sucedida sobre o cruzamento de linhagens altamente produtivas de certas espécies
principais de plantações.
A fim de maximizar a produção de vegetais, um fazendeiro pode cultivar uma vasta
área com sementes de constituição genética única, uma prática chamada
monocultura.
Como organismos patogênicos e predatórios atacam as plantações,
genes de resistência especial são cruzados com as linhagens vegetais para protegê-
las. Em alguns casos, os genes de resistência são eficazes durante décadas; em
outros, porém, os patógenos superam os genes de resistência em poucos anos.
Alterações genéticas aleatórias ocorrem constantemente nas populações de
patógenos (microorganismos causadores da doença), e tais mudanças, às vezes,
conferem nova capacidade patogênica. Este fato deixa a monocultura inteira sob
risco. Por esta razão, os geneticistas vegetais sempre tendem a estar um passo à
frente dos patógenos a fim de prevenir a disseminação de doenças vegetais
epidêmicas ou a destruição, que poderia ter efeitos devastadores sobre o suprimento
de alimentos. Os fungos e as bactérias também têm sido cruzados especialmente para as necessidades humanas.
A levedura é um exemplo óbvio; ela é a base da
indústria de muitos bilhões de dólares que produz alimentos fermentados, bebidas
alcoólicas e álcool combustível, Os fungos fornecem o antibiótico penicilina; a droga
imunossupressora ciclosporina, que evita a rejeição de transplantes de órgãos; e uma
vasta gama de compostos industriais importantes como ácido cítrico e amilase. As
bactérias fornecem à ciência médica antibióticos químicos como a estreptomicina. A
maioria das indústrias que utilizam fungos e bactérias tem-se beneficiado da
aplicação de princípios genéticos de cruzamento, porém agora estamos em uma nova
era, na qual o DNA pode ser diretamente manipulado a fim de sintetizar linhagens
inteiramente novas de micróbios dentro do tubo de ensaio, ajustadas exclusivamente
às necessidades humanas.
Esta tecnologia é chamada engenharia genética
molecular. Hoje em dia, por exemplo, temos linhagens bacterianas produzindo
substâncias próprias dos mamíferos, como a insulina para o tratamento do diabetes e
o hormônio do crescimento para o tratamento do nanismo hipofisário. A insulina
produzida por tais linhagens é genuinamente do tipo humana ao contrário dos
produtos anteriores extraídos da insulina do gado ou do porco. Algumas das
substâncias produzidas por estas linhagens microbianas modificadas são
extremamente difíceis de serem obtidas a partir de outras fontes. Por exemplo,
algumas crianças precisam do tratamento com o hormônio do crescimento a fim de
crescerem a taxas normais — para se tratar uma criança com o hormônio do
crescimento humano durante um ano era necessário extraí-lo previamente das
glândulas hipofisárias de cerca de 75 cadáveres humanos. Da mesma forma,
derivados especiais de linhagens fúngicas e bacterianas estão sendo manipulados
por meio da engenharia genética para produzir maiores quantidades de seus
produtos naturais. A engenharia genética molecular foi primeiramente aplicada aos
micróbios, porém agora as mesmas técnicas estão sendo aplicadas a vegetações e
animais, resultando em tipos obtidos geneticamente que nunca poderiam ter sido
produzidos por cruzamento seletivo.
Na engenharia genética molecular, a constituição genética é alterada pela exposição
de células a fragmentos do DNA "estrangeiro" que carrega os genes para codificação
das proteínas desejáveis, freqüentemente a partir de outras espécies. Esse DNA,
capturado pelas células, insere-se a si mesmo em um ou mais dos cromossomos
receptores; ele é então herdado como um outro gene qualquer.
As células modificadas desta maneira são chamadas transgênicas. A partir de uma célula
transgênica, pode-se produzir um organismo multicelular transgênico cujas células
contêm DNA estrangeiro adicional. Por meio da utilização dessa técnica, pode ser
gerada uma vasta gama de organismos projetados comercialmente lucrativos. A
aplicação da engenharia genética ao comércio é amplamente chamada de
biotecnologia. Estima-se que a indústria da biotecnologia, tendo como base a
genética, tornar-se-á uma das indústrias mais rentáveis das próximas décadas.
Verdadeiro ou não, a biotecnologia une os outros elementos da cornucópia genética
no apoio à espécie humana, na medida em que apresenta o tamanho populacional e
o padrão de vida elevado. Uma outra área importante dos interesses humanos que utiliza a genética é a ciência
forense. Todos os membros da espécie humana carregam mais ou menos o mesmo
conjunto de DNA. Porém, pequenas variações no DNA contribuem para a variação
humana. Se uma amostra de DNA obtida de um indivíduo estiver disponível para
análise, técnicas especiais permitem a triagem de grandes números de segmentos de
DNA a fim de gerar um ‘fingerprint" ("impressão digital") do DNA. Exceto no caso
de gêmeos idênticos, tais Fingeprints são específicos para os indivíduos. Os
fingerprints dos DNAs são amplamente usados nas investigações policiais. Até
mesmo o fingerprint do DNA de plantas pode ser útil. Em um caso relatado, o DNA de
duas sementes diminutas, obtido a partir da traseira do caminhão de um suspeito,
estabeleceu claramente que o caminhão havia estacionado sob uma árvore
específica, perto da qual foi encontrado o corpo da vítima do assassino. Amiúde,
apenas pequenas amostras de DNA estão disponíveis a partir de amostras de
sangue, sêmen ou até mesmo folículos pilosos, de modo que os segmentos do
fingerprint têm que ser estudados um de cada vez.
Muitos indivíduos na população compartilham pequenos tipos específicos de segmentos, o que torna necessário que esse tipo de evidência seja interpretado com mais cautela. Estes fingerprints parciais
podem eliminar ou estreitar o número de suspeitos possíveis em um caso criminal,
porém não identificam um indivíduo específico.
A Genética É um Componente Crucial da Medicina
Uma grande porção do tratamento das doenças humanas possui base genética.
Estimou-se, por exemplo, que pelo menos 30% das internações hospitalares
pediátricas possuem um componente genético direto. Contudo, as pesquisas atuais
revelam mais e mais predisposições genéticas a condições sérias, bem como a
doenças mais brandas, de modo que esse quadro é quase certamente subestimado.
As doenças genéticas possuem muitas facetas. Muitas doenças genéticas herdadas
(como fibrose cística, fenilcetonúria e distrofia muscular) são causadas por formas
anormais, mutações, de genes únicos herdados de gametas (espermatozóide e
ovócito). As posições dos genes únicos que causam alguns dos distúrbios
hereditários mais bem conhecidos são mostradas no mapa cromossômico humanos.
A maioria dos genes mostrada foi isolada e analisada em nível molecular. Alguns
isolados recentes constituem os genes responsáveis pelos tipos herdados da doença
de Alzheimer e do câncer de mama. Formas anormais do gene S182 localizado no
cromossomo 14. São responsáveis por 80% dos casos da doença de Alzheimer
familiar de início precoce, sendo responsáveis por 10% de todos os casos dessa
doença. O gene S182 normalmente codifica uma proteína da membrana. O câncer de
mama familiar (herdado) é responsável por 5% dos cânceres de mama na nossa
população.
As formas anormais dos genes BRCA1 e BRCA2 juntas são responsáveis
por dois terços dos casos de câncer de mama familiar. O BRCA1 também está
associado a predisposição ao câncer do ovário. O BRCA1 codifica uma proteína que
funciona como reguladora da atividade de outros genes. Em ambos os casos,
entendimento acerca de como os genes causam as formas familiares mais raras da doença também levará, indubitavelmente, ao conhecimento de uma terapia eficaz
para as formas "esporádicas" mais comuns.
A determinação de alguns distúrbios humanos é complexa, pois as condições são
causadas pela interação de inúmeros genes os quais também interagem com o meio
ambiente. Exemplos de doenças que demonstram tal forma complexa de herança são
as cardiopatias e o diabetes.
A tecnologia genética molecular tem aberto novos
caminhos para encontrar e isolar estes genes de interação múltipla.
O isolamento de genes em animais experimentais também pode fornecer idéias que
apresentam impacto potencial sobre a saúde humana. Foram isolados genes únicos,
por exemplo, que apresentam um efeito importante sobre a obesidade em
camundongos. Um gene ob codifica uma proteína sinalizadora que faz parte de um
sistema que diz ao camundongo quando ele já se alimentou o bastante. Um outro
gene CPE faz com que o camundongo se torne lentamente obeso e desenvolva
suscetibilidade ao diabetes.
O tipo de câncer esporádico mais comum é causado pelo aparecimento súbito de
uma forma mutante de um gene em uma célula somática, uma célula do corpo, que
não produz nem ovócito nem espermatozóides. Como tais cânceres estão localizados
em tecidos somáticos, por definição eles não são transmitidos à geração seguinte.
Contudo, como vimos anteriormente, a predisposição a certos cânceres é herdada.
Há então algumas considerações de que o câncer, que de alguma maneira afeta
nossas vidas, é uma doença genética.
Outro tipo de doença genética é causado por anomalias cromossômicas,
anormalidades da estrutura ou do número de cromossomos. Um exemplo familiar é a
síndrome de Down, causada pela possessão de uma cópia extra de um cromossomo
específico. A maioria dos casos de síndrome de Down surge de novo em cada
geração a partir de "acidentes" celulares nas gônadas dos genitores com conjuntos
cromossômicos de outro modo normais. Tais acidentes resultam em um
espermatozóide ou ovócito anormal, e estes, por sua vez, levam à criança a ter a
síndrome de Down.
A genética tem demonstrado que os genes estão na base de um grande número de
doenças, mas também pode fornecer alívio para o sofrimento em muitos casos. As
sondas genéticas moleculares já estão sendo usadas para detectar genes
defeituosos em futuros genitores. Além disso, os próprios genes defeituosos estão
sendo isolados e caracterizados por técnicas de genética molecular. O DNA, por
exemplo, do gene que causa a fibrose cística foi isolado e analisado. Por meio da
descoberta da seqüência de nucleotídeos de um gene causador de doença é possível
deduzir a estrutura e a função da proteína que ele codifica e, a partir daí,
compreender o defeito fisiológico causado pela mutação.
Uma vez compreendida a doença, podem-se desenvolver tratamentos terapêuticos melhores. Por fim, existe a
esperança de que a terapia gênica direta irá atenuar muitas doenças genéticas. Na terapia gênica, uma cópia de um gene normal é inserida transgenicamente nas
células que transportam o seu correspondente defeituoso. Os primeiros casos
relatados de tentativas da terapia gênica humana foram duas crianças que sofriam de
uma imunodeficiência combinada grave (uma doença hereditária dos leucócitos).
Foram removidas células dos pacientes, inseriu-se nelas um gene que funcionava
corretamente, e estas foram então reinseridas nas crianças para fazer parte da
população de células do sangue em seus corpos. A partir desse primeiro caso, várias
outras tentativas na terapia gênica têm sido relatadas e, sem dúvida, muitas mais se
sucederão daqui para diante. Entretanto, a terapia gênica ainda continua em sua
infância.
A ação de um único gene depende de muitos fatores, todos eles têm que
estar em alinhamento correto para resultar no alívio dos sintomas.
Os geneticistas estão estudando também o vírus da imunodeficiência humana (HIV),
que causa a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Como parte natural de
sua reprodução, os vírus no grupo que contém o HIV inserem cópias de seu material
genético nos cromossomos dos indivíduos que infectam. Portanto, de certa forma, a
AIDS também é uma doença genética, e a compreensão de como tais genes virais se
integram e funcionam é uma etapa importante na superação da doença.
Atualmente existe um projeto de pesquisa maciça que seqüenciou todos os três
bilhões de nucleotídeos no genoma humano, sendo a medicina a beneficiária
primaria. Este projeto do genoma humano é um esforço de colaboração internacional
de muitos laboratórios, cada um trabalhado em regiões cromossômicas específicas.
Já obtivemos mapas físicos de alta resolução para o DNA dos cromossomos
completos. Embora sejam imensos os benefícios potenciais para a medicina, talvez o
mais excitante seja a oportunidade final de estudar os projetos para a construção do
que é inegavelmente a mais complexa estrutura conhecida no universo, o Humo
sapiens.
A Genética Afeta Nossa Visão do Mundo
Cada um de nós adquire gradativamente a visão individual do universo e de nossa
própria posição neste universo desde o início da nossa consciência. Este ponto de
vista representa nossa identidade como indivíduos. Ele orienta nossas atitudes e
ações e, como tal, determina o tipo de pessoa que somos e finalmente o tipo de
sociedade em que vivemos. Qualquer conhecimento novo tem que ser acomodado
dentro desta visão de mundo ou a visão de mundo tem que ser alterada para que ele
possa caber. A genética tem fornecido alguns novos conceitos poderosos que
mudaram radicalmente a visão da própria humanidade e sua relação com o restante
do universo.
Provavelmente, o melhor exemplo de como a genética muda a visão pessoal do
mundo vem a partir de estudos da genética, do cromossomo, do DNA e da proteína
que mostram que estamos relacionados não apenas aos macacos e a outros animais,
mas também, mais surpreendentemente ainda, a todas as outras coisas que vivem no planeta, incluindo vegetais, fungos e bactérias.
Os seres vivos compartilham um
sistema comum de armazenamento e expressão da informação genética e
demonstram homologia (semelhança com base na proximidade evolutiva) em muitas
estruturas, até mesmo nos próprios genes. O fato de haver um espectro contínuo de
relação dentro do mundo vivo é uma noção intelectual poderosa que nos unifica a
outros organismos vivos. Esta noção afeta radicalmente nossa visão do mundo. Ela
sugere uma visão de humanidade não como o auge ou o centro da criação, mas
como uma forma igual a outras formas de vida. Isto nos leva, reconhecidamente ao
domínio da filosofia e da religião, mas este é o ponto: a genética nos força a
considerar questões acerca de como nos vemos a nós mesmos.
Algumas das maiores e mais prementes questões sociais mundiais possuem um
componente genético indireto. Por exemplo, alguns problemas principais de
preconceito e sofrimento social centram-se sobre diferenças de comportamento entre
as raças e entre os sexos. Será que o QI está relacionado com a raça? Homens e
mulheres possuem predisposições genéticas diferentes ao comportamento
agressivo? A genética fornece um modo de analisar e pensar a respeito desses
assuntos complexos e não solucionados.
Uma das maiores preocupações globais dos biólogos é a taxa alarmante de
destruição de nossos hábitats naturais, especialmente nos trópicos, que abrigam
vastos reservatórios da vida vegetal e animal. Novamente aqui os problemas têm um
componente genético crucial, pois a questão recai sobre a conservação da
diversidade genética; é preciso que se conheçam os níveis mínimos de diversidade
necessários às populações saudáveis, como também que tamanhos populacionais
podem manter esses níveis.
A partir daí, um conhecimento profundo sobre o impacto
da destruição de hábitats naturais requer o entendimento da genética.
Outra questão genética com impacto global potencial é a saúde de nossas
populações. Muitos geneticistas estão preocupados devido à quantidade cada vez
maior de agentes ambientais que tentam invadir os genomas humanos. Esses
agentes, principalmente a radiação, e as substâncias químicas, são capazes de
causar mutações aleatórias nos genes. A grande maioria dessas mutações seria
inevitavelmente deletéria. Em curto prazo, elas não aumentariam significativamente a
freqüência das doenças herdadas, porém, em longo prazo, à medida que as
mutações se acumulam, elas iriam combinar-se e interagir a fim de produzir as
doenças, um efeito que tem sido chamado de "bomba-relógio genética".
É claro que a tecnologia genética, como qualquer outro avanço tecnológico, traz
consigo seus próprios dilemas éticos.
A Revolução Verde, por exemplo, é um
sucesso em termos de produtividade, mas os altos níveis de fertilização e aplicação
de pesticidas necessários às novas variedades de vegetais fez surgir preocupações
acerca da poluição da água e da capacidade de os fazendeiros, em países
subdesenvolvidos, comprarem os caros fertilizantes. A capacidade de criar, em nível
experimental, ovelhas geneticamente idênticas, iniciou um debate acalorado acerca da ética da aplicação dessa mesma técnica aos seres humanos. De fato, a síntese de
novas formas de vida transgênicas a partir da engenharia genética levou a uma
precipitação de preocupações acerca da moral e da legalidade de tais vegetais e
animais desenvolvidos.
O acesso à informação a respeito da constituição genética do
indivíduo também é um problema em certas áreas, como a dos seguros de vida e a
área forense. Já existem publicações de credibilidade acerca de genes específicos
que predispõem as pessoas a tais padrões comportamentais, tais como
agressividade e homossexualidade. Qual seria o impacto do conhecimento destes
genes sobre os direitos dos indivíduos que são seus portadores? Seria demasiado
fácil dizer estes não são os problemas dos cientistas, mas sim da sociedade; os
cientistas precisam compartilhar a responsabilidade do impacto social de suas
descobertas e os resultados possíveis das novas informações devem ser pensados o
mais profundamente possível antes de serem liberados os resultados para o domínio
público.
Os exemplos citados aqui mostram que muitas das questões com que nos
defrontamos diariamente como indivíduos e como sociedades envolvem intimamente
a genética. Somente através do conhecimento do componente genético dessas
questões é que podemos esperar, como cidadãos globais, tomar sábias decisões
para o futuro de um mundo cada vez mais complexo e populoso.
Produzindo mamíferos
geneticamente idênticos
Mamíferos geneticamente idênticos — principalmente seres humanos — são um
tópico de considerável interesse tanto para geneticistas quanto para não-cientistas.
Gêmeos idênticos, que ocorrem naturalmente pela divisão de um ovócito fertilizado
para criar dois indivíduos, têm sido sempre objeto de curiosidade e têm também
formado a base para as tentativas cientificas de calcular o componente genético da
variação nos fenótipos humanos, tais como certos tipos de comportamento.
Há mais de 20 anos descobrimos que as células individuais de um vegetal poderiam
crescer em culturas para produzir um grupo de plantas geneticamente idênticas,
chamadas clone. Ao mesmo tempo, também foi possível clonar o sapo-martelo
africano Xenopus Iaevis utilizando uma micropipeta para remover o núcleo de células
do intestino de um girino e injetá-las nos ovócitos enucleados do sapo. E claro que as
células de girino com desenvolvimento avançado continham toda a informação
genética que pode apoiar o desenvolvimento normal de um animal adulto, uma
condição conhecida como totipoténcia.
Contudo, estágios posteriores do desenvolvimento não foram totipotentes. Em fevereiro de 1997, as primeiras páginas dos principais jornais mundiais apresentavam a figura de uma bonita ovelha chamada Dolly, que foi produzida pela
implantação do núcleo de uma célula do úbere de uma ovelha Finn Dorset no ovócito
enucleado de uma ovelha Scottish Blackface. Este processo, que parece simples,
seria bem-sucedido somente se as células doadoras estivessem famintas" em
cultura, de modo a induzir a parada da divisão celular mitótica, uma manobra que
parecia tornar o núcleo doador compatível com o ovócito receptor, o que ocorreu em
um estágio posterior da meiose. Este resultado experimental surpreendente
demonstrou que o núcleo de um mamífero ainda é totipotente.
A história ficou famosa, não devido à totipotência, mas porque ficou claro que
extensões de uma tecnologia que produziu Dolly também poderiam ser utilizadas
para clonar seres humanos geneticamente idênticos. Isto disparou um debate
acalorado a respeito da ética de tal procedimento e de algumas de suas possíveis
utilizações indevidas. De fato, vários países aprovaram subseqüentemente leis ou
estatutos que regulam ou até mesmo proíbem este tipo de experimento em seres
humanos.
Existem utilizações legitimas para a clonagem humana? Uma sugestão é a
de que se um lactente ou uma criança pequena morre acidentalmente, esta
pequenina janela de existência poderia ser ampliada por meio da clonagem. Contudo,
no momento, esta questão está sob debate, pois a eficiência do processo de
clonagem de mamíferos ainda é baixa — muitos embriões defeituosos foram
produzidos antes da Dolly.
Federação ornitológica de Pernambuco.
Re: Hereditariedade e o Organismo
muito bom !!!
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Re: Hereditariedade e o Organismo
Ótimo artigo!!
Reryson Colares- Criador ativo
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Re: Hereditariedade e o Organismo
Muito bom..
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